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“Isso é sem vergonhice! Desculpa pra trair de boas! Não existe!” Até quando Relacionamentos não monogâmicos serão tabus difíceis de entender? Calma lá, chega aqui mais perto, vamos descomplicar a não monogamia? Vai ser meio longo, mas me acompanha aqui que você vai ter um manual de A a Z nessa misturinha gostosa.

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Quais são os tipos de relacionamentos?

Uma relação afetivo-sexual, ou seja, uma relação séria na qual você mantém um contrato social pautado em sentimentos e em relações sexuais, pode ser monogâmica, não monogâmica ou poligâmica.

A relação monogâmica é vista como a forma de relação tradicional, no qual as duas pessoas envolvidas nesse compromisso não se relacionam com outras pessoas nem de forma afetiva, nem de forma sexual.

A relação poligâmica, por sua vez, é o tipo de relacionamento vivido por culturas orientais e pautadas em ideias intrinsecamente machistas e misóginas quando vistos pela ótica da cultura ocidental que vivemos. Porém, segue sendo um tipo de relacionamento válido em países orientais, principalmente em Estados de religião muçulmana como predominantes. A grande diferença da poligamia para a não monogamia é a ideia de nulidade de escolhas das pessoas envolvidas.

O que é, afinal, uma relação não monogâmica?

Chegamos então, na queridinha… A relação não monogâmica, que vem crescendo e virando um assunto famoso nos tempos atuais. Uma relação não monogâmica nada mais é do que um relacionamento sério no qual as pessoas envolvidas, que podem ser duas ou mais, flexibilizam as regras da forma de se relacionar, permitindo que haja a participação de outras pessoas no relacionamento seja de forma afetiva, seja de forma sexual. 

Ou seja, é qualquer tipo de relação que saia dos moldes da monogamia tradicional e não seja passível de ser confundida com os ideais morais da poligamia das regiões orientais.

Portanto, uma relação não monogâmica pode ser totalmente diferente da outra! Pode ser um casal principal que se permitem aventuras com outras pessoas, pode ser um formato de trisal, pode ser um casal se relacionando de forma afetiva ou sexual com outra… o que vale é: os acordos precisam fazer sentido para os envolvidos nessa relação, é preciso haver respeito, muito diálogo, ausência de julgamento e principalmente, limites.

Quais as premissas das relações não monogâmicas?

A não monogamia entende que a monogamia tradicional acaba colocando limites que são muitas vezes ilógicos na sociedade atual e levando em consideração as diversas vontades e formas de prazer que podem ser vividas entre os seres humanos.

Portanto, uma das premissas da não monogamia é questionar as verdades trazidas pela monogamia, por exemplo: 

  • Será que somos biologicamente feitos para se apaixonar apenas por uma pessoa? 
  • Por que seria moralmente errado eu ficar com mais de uma pessoa ao mesmo tempo?
  • Da onde surgem o ciúme e o sentimento de posse dentro de um relacionamento que fazem com que a gente reivindique exclusividade?
  • Quem sou eu para dizer que outra pessoa pode ou não ficar com um terceiro?

A igreja católica na idade média quem trouxe diversas premissas que foram entendidas enquanto dogmas que fizeram o alicerce para a tradição das relações serem pautadas na monogamia. O ideal da monogamia é baseado em ideias como a) submissão da mulher ao controle de posse de seu marido; b) relações com mais de uma pessoa serem atreladas ao pecado da luxúria e, portanto, serem consideradas movimentações luciferianas; c) fazer da família a entidade principal da sociedade, sendo uma família pautada em pai, mãe e filhos e usando da família para controle das vontades femininas. 

Muitos desses ideais surgem como podas. Sejam podas para não permitir o vôo das mulheres ou podas para fazer com que o homem se coloque sempre no papel e dever moral de provedor da casa e guardião da família. 

Viver um relacionamento não monogâmico, antes de qualquer outra coisa, é questionar se esse modo de vida faz sentido para você. É entender que mudar esse estilo de vida te permite muitas experiências novas, com diversas sensações e aprendizados. 

O que não significa que isso não seja possível em uma relação monogâmica! Está tudo bem ser uma pessoa que não sente vontade de ficar com outras quando está apaixonada. A questão é: se isso não ocorre contigo, se você acha que a monogamia não faz sentido, tente entender qual estrutura de relação faz sentido para você!

Quais os formatos de relações não monogâmicas?

Minha deusa, infinitas!!!! Mas vou deixar alguns exemplos abaixo, para que, pelo menos, fique um pouco mais claro de entender a complexidade e gama de opções de se relacionar dentro da esfera da não monogamia:

  1. Relacionamento aberto é quando duas — ou mais — pessoas tem um relacionamento “principal” e decidem juntas que elas podem se envolver romanticamente e/ou sexualmente com outras pessoas também;
  2. Poliamor em V: Quando uma pessoa se relaciona com outras duas, que não se relacionam entre si. Ex. Maria se relaciona com Roberta e Bruno, mas Roberta e Bruno são só amigos, eles não se relacionam romantica ou sexualmente.
  3. Trisal: Quando três pessoas se relacionam todas entre si, esse relacionamento pode ser FECHADO (exclusivo de maneira romântica-sexual) ou ABERTO (não exclusivo). A mesma ideia serve para quadrisal.
  4. Rede: Um relacionamento “rede” é quando várias pessoas se relacionam não monogamicamente umas com as outras (como uma linha ou uma constelação). Dentro da rede as pessoas podem ou não se conhecer, ou interagir entre si. Dentro da rede podem existir vários tipos de relações não monogâmicas, em triângulo, em V, relacionamentos abertos, amizades coloridas, etc. Só não pode relacionamentos exclusivamente monogâmicos.

É importante relembrar que cada casal/trisal/quadrisal, enfim, cada relacionamento faz as suas regras de acordo com o que faz sentido, de acordo com os valores do casal e depois de ter muito diálogo sendo feito para que as coisas ocorram de maneira saudável para todos os envolvidos.

A não monogamia entende que a monogamia é sempre tóxica?

Com certeza NÃO! A monogamia é um formato de relação válida, o que pessoas não monogâmicas pedem é que quem for monogâmico entenda as raízes dessa forma de se relacionar e tirem os aspectos negativos dessa tradição. Ou seja, que o ciúmes, a possessividade, os motivos da necessidade da exclusividade sejam repensados, tratados e curados. 

Há pessoas que podem ser naturalmente monogâmicas, bem como podem ser naturalmente não monogâmicas e está tudo bem! O que a gente pede é apenas para que todas as pessoas repensem se o modo como se relacionam está de acordo com as coisas que realmente acredita ou se é uma reprodução automática de uma tradição restritiva com raízes não saudáveis.

Quais as dores atuais das relações não monogâmicas?

Invalidação e comparação com a solteirice são disparados as mais presentes, na minha opinião. 

É muito difícil as pessoas enxergarem as relações não monogâmicas como relacionamentos sérios. As pessoas precisam começar a entender que é possível amar mais de uma pessoa, amar uma mas se relacionar com várias sem que esse amor seja diminuído, se relacionar de forma verdadeira com mais de uma pessoa… E que nessa relação, ficar com algum terceiro NÃO É considerado traição. 

Inclusive, dentro da relação não monogâmica é possível haver traição do mesmo jeito! Basta haver uma “quebra de contrato”, ou seja, uma das pessoas da relação fazer algo que não tinha sido previamente acordado entre o casal/trisal, etc.

Dói demais escutar as pessoas falando que isso não é um tipo de relacionamento sério, que se for para ficar com mais pessoas é “só ficar solteiro”, sendo que simplesmente não é a mesma coisa!

Quando se está solteiro, você não tem planos de vida, sonhos compartilhados, não há a cumplicidade e o amor que se há numa relação séria. Solteiro, você não tem nenhum tipo de compromisso com ninguém, portanto, NÃO É PASSÍVEL DE COMPARAÇÃO a solteirice com a relação não monogâmica.

O mundo sexual liberal

É importante entender que dentro das possibilidades da não monogamia, existe a entrada para o chamado “mundo liberal”, que nada mais é do que se permitir passar por experiências sexuais em casal ou sozinho tendo combinado isso com o(s) seu(s) parceiros.

Essas experiências são igualmente vastas, podendo serem vividas à três, à quatro, a quantas sua imaginação e vontade permitir e querer. Dentro do mundo liberal, há casas de swing, grupos online de suruba que promovem festas para que esses encontros ocorram e as redes sociais são de grande ajuda para conseguir essas novas experiências. 

As mais conhecidas seriam o ménage à trois (ou threesome) e a troca de casais (também chamado de swing), mas tem todo um mar de possibilidades dentro dessas aventuras sexuais que podem ser vividas. 

Fonts: https://medium.com/@urielribeiro/precisamos-falar-sobre-n%C3%A3o-monogamia-625636e91c69

Giullia Fidelis

Author Giullia Fidelis

Ativista pelos direitos das mulheres e da comunidade LGBTQIA+, marketeira e petsitter. Estuda sobre sexualidade, saúde feminina e transpira o mundo sexual liberal.

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