Skip to main content

Tempo de leitura: 1-2 min.

Estou ofegante e ainda nem começamos. Mesmo no escuro sinto o peso dos seus olhos me observando e isso me assusta. A boca seca. As mãos suadas. Os pêlos acesos e elétricos. O hálito quente em minha nuca precede a sensação firme e áspera de algo passando pelo meu corpo como uma cobra de curvas infinitas, me apertando em todos os lugares certos, preparando meu corpo pequeno e indefeso para um tipo de tortura que eu já conhecia.

As pernas dobradas, as costas curvadas, as mãos atadas e o pescoço envolvido e sufocado. A ânsia de morrer de amor deixa minhas pétalas úmidas e inchadas e borboletas surgem no meu estômago. Mesmo dolorida e imobilizada, eu imploraria mil vezes pra estar ali, de novo e de novo. Tremendo como uma gazela indefesa, pronta para levar o tiro da sua espingarda.

– Quer que eu pare?
– Não

De repente, não sinto mais os pés no chão e flutuando, meu corpo se adapta ao peso gostoso de ser suspensa. Ali, com o som do estalo das cordas, penso em como meu caçador, arquiteto e calculista, posicionou todos os ganchos, travas e amarras de forma perfeita. Só pra mim. Se eu pudesse enxergar, me espantaria com a exibição sincera do nosso vício latente. Eu, pendurada como um casulo pronto para eclodir numa sala minimamente iluminada. Ele, a força que conduz tudo, o nascimento, a formação dos meus desejos, o fim de nós dois. Nus, vestidos de nós mesmos. Eu fui a caça, e fui feliz.

 


Imagens: @kinky.ph

Julia Mazaia

Author Julia Mazaia

Artista, escritora amadora e amante da liberdade. Escrevo sobre sexo e crio com o propósito da libertação dos corpos e em prol da conexão humana.

More posts by Julia Mazaia

© Todos os diretos reservados.